Crônica:
Eleições
Uma coisa muito engraçada é que, em tempo de
eleição, os homens perdem completamente essa aparência civilizada de cortesia, de
boa educação, de finas maneiras, que os leva a insistir como os seus
semelhantes para que entrem primeiro no elevador:
_Ora,
essa! Faça o favor! Isto em tempos normais. Agora, como o elevador é pequeno e
a fila dos candidatos é grande, cada qual vai tratando de empurrar os demais, de
correr o mais que pode e, se acaso consegue penetrar na gaiola que o há de
levar aos andares superiores, não há forças que o façam ceder o lugar ao
corrente mais próximo.
Outra
coisa que esquecem os homens, em tempo de eleição, é essa afetação de falsa
modéstia que rege o comportamento normal de um indivíduo mediamente educado e
que o impede de ficar por aí proclamando em altas vozes os seus méritos e
virtudes. Pelo contrário. O hábito é diminuir-se, anular-se, fingir-se de
insignificante:
-Eu, o mais obscuro dos membros desta casa...
_Absolutamente!
Não apoiado. Vossa excelência é um mestre
Mas
quando se trata de disputar os favores de eleitorado, não é assim que fala o
cidadão. Sua linguagem é diferente: - Votem em mim,que sou o maior! Votem em
mim, que sou tal! Votem em mim, que fiz isso e aquilo!. Votem em mim, que sou inteligente,
culto, honesto, trabalhador, ativo, diligente, formidável! Os outros candidatos
não valem nada.
Por
essas e outras, estou convencido de que a eleição é uma força catártica que
extrai do indivíduo convencional e polido, coberto de uma crosta falsa e
superficial de civilização _ o homem; o homem primitivo e o homem de sempre; _ o
homem, com seus instintos, sua brutalidade inata, sua sede de competição e de
conquista, sua vaidade, seu orgulho e seu egoísmo; isto é que reconduz a espécie
humana ao seu Estado natural.
Coisa
que _ aqui entre nós _ não é muito bonita de se ver.
Autor:Luís
Martins